17.4.11

Um ser estranho

Estou sentada no chão, em cima de um tapete cor-de-rosa, igual às minhas paredes. Eish... O meu quarto é tão piroso. Paredes cor-de-rosa, tapete cor-de-rosa, cama preta com lençóis verde alface às riscas brancas, secretária branca e umas caixas cor-de-rosa todas destruídas que guardam ... chapéus.
O meu quarto pode ser uma confusão, pode ter livros e roupas e filmes e cds espalhados por tudo quanto é sítio, pode ate nem ter muita luz ou ser muito grande, mas a verdade, é que é o meu refúgio neste "mundo" de pessoas ditas normais que me fazem sentir um bonequinho e que pensam que podem fazer comigo o que quiserem. 
Tomam-me como doida, maluca, delinquente... Dizem que não sou normal, que fui um erro... Não me dão atenção e nem parecem reparar que eu, este bonequinho, tenho sentimentos...
Lá por eu sentir as coisas de maneira diferente, lá por eu absorver as emoções mais intensamente que os outros, lá por eu fazer coisas que mais ninguém faz como fixar as pessoas nos olhos durante horas e horas e horas... lá por eu fazer tudo isso e muito mais não sou maluca. Ou sou?
Não acham que estas pessoas, em vez de me dizerem para criar amiguinhos imaginários para ser independente, ou para não escrever sobre a minha vida porque isso faz com que me isole das pessoas... Nao acham que eles me deviam ajudar? Não acham que por uma vez na vida me deviam perguntar como estou? Ou... o que é que se passa contigo? Ou até mesmo perguntar como correu o dia na escola?
Eu acho que deviam, mas a verdade é que não o fazem. Toda a minha via fui assim, não digo sozinha, mas ... independente, e sem necessidade de amigos imaginários. Não me lembro de ser criança, não me lembro de viver a minha infância... Quer dizer, lembrar lembro mas pouco. Lembro-me de estar numa sala escura a olhar para uma televisão desligada, com um roupão cor-de-rosa. Essa é a minha memória mais viva da minha infância.
Mas voltando ao assunto, ontem disseram-me que nós (as pessoas especiais) não somos anormais, os outros, esses sim, são normais de mais. De qualquer forma, prefiro ficar perdida na minha anormalidade e ter alguma adrenalina na minha vida do que ser um ser banal e vazio como muitos que para aqui andam. 
Nunca fui normal nem quero ser. Prefiro ser o ser estranho que, no meio de conversas, pára apenas para ficar a observar quem está à sua frente. Prefiro ser o ser estranho que tem jeito para escrever e choca toda a gente com as suas palavras. Prefiro ser o ser estranho que escreveu o texto que está a ser lido agora. Até porque... Eu gosto de ser estranha.

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